O episódio acerca da discriminação racial de que foi vítima o jogador de futebol Grafite, que à época (2005) atuava pelo time do São Paulo, gerou um debate revelador a propósito de um sem-número de imposturas no tocante ao modo de abordagem do racismo brasileiro em âmbito futebolístico. Não é de agora que se percebe que a barbárie – ou uma irracionalidade circunscrita, e como que tolerada, dentro dos limites “da rodada” – se refugia nos apreciadores e nas coisas relacionadas ao futebol. De outra parte, não recuso de modo nenhum o futebol que, não só para mim, aliás, para muitos, é considerado uma forma de arte e, portanto, de modo análogo como o poeta Charles Baudelaire a entende, também o futebol tem os dois elementos constitutivos da modernidade artística: um que é contingente (pode ser jogado com mais ou menos cadência, pode ser mais ou menos defensivo, etc.) e outro que é eterno (são onze contra onze, habilidade com a bola e eficiência na ocupação dos espaços). Sou torcedor convict
Ronald Augusto é poeta e ensaísta. Licenciado em Filosofia pela UFRGS e Mestre em Letras (Teoria, Crítica e Comparatismo) pela mesma universidade. É autor de, entre outros, Puya (1987), Vá de Valha (1992), Confissões Aplicadas (2004), No Assoalho Duro (2007), Cair de Costas (2012), Oliveira Silveira: poesia reunida (2012), e Decupagens Assim (2012). É colunista da revista http://www.mallarmargens.com/; e escreve quinzenalmente para http://www.sul21.com.br/jornal/colunista do site Sul21.