O palindromo "orumuro" serve de ponto de partida para uma série eventos estéticos e intersemióticos. Num primeiro momento, temos o registro fotográfico de uma pichação num muro da metrópole, verdadeiro palimpsesto urbano que de imediato gera uma tradução em outro código: trata-se do poema de Cândido Rolim. Ainda dentro das balizas do código verbal, o poema de Rolim serviu de ponto de partida para o meu texto em diálogo, que, de resto, pode ser lido como uma tradução intracódigo. Assim, começam a ser depositadas camadas e camadas de signos sobre um evento ou sobre um instante do presente precário, produtor de fricções inesperadas e de ficções, onde o real surge como o seu corolário equívoco. Tempos depois, esses primeiros excursos de experimentos discursivos se fundem, aí sim, numa forma de linguagem que em sua essência é de caráter intersemiótico: o registro audiovisual. O videopoema, o clipoema, ou que outra denominação se use, anima os signos do verbal, feito de tipos (i)móveis, documentando a caligrafia defectiva por meio do acaso tanto da oralidade como da veracidade do homem-fala condenado ao seu afazer e à sua afasia.
No ano de 1995 organizei a mini-antologia Revista negra que apareceu encartada no corpo da revista Porto & Vírgula , publicação — infelizmente hoje extinta — ligada à Secretaria Municipal de Cultura e dedicada às artes e às questões socioculturais. Na tentativa de contribuir para que a vertente da literatura negra se beneficiasse de um permanente diálogo de formas e de pontos de vista, a Revista negra reuniu alguns poetas com profundas diferenças entre si: Jorge Fróes, João Batista Rodrigues, Maria Helena Vagas da Silveira, Paulo Ricardo de Moraes. Como ponto alto da breve reunião daqueles percursos textuais, incluí alguns exemplares da obra do poeta Oliveira Silveira. Gostaria, agora, de apenas citar o trecho final do texto de apresentação que à época escrevi para a referida publicação: “Na origem todos nós somos, por assim dizer, as ramificações, os desvios dessa complexa árvore Oliveira. Isto não nos causa o menor embaraço, pelo contrário, tal influência nos qualifica a...
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