Para o leitor, o poema se apresenta, numa primeira aproximação, como que vertido em língua estranha, mas ao mesmo tempo remotamente familiar. Na comunicação poética, a imagem da leitura como algo rente ou similar à operação tradutória se impõe de modo decisivo. A comunicação poética pressupõe certa dose de intraduzibilidade, de hermetismo, a partir de uma condição de limite disciplinador imposto pelo jogo de relações requerido pelo poema. Mas tal dilema – a razoável impenetrabilidade da poesia – se resolve, por outro lado, no momento em que o leitor-poeta assume a responsabilidade pela co-autoria daquele texto, por meio de um gesto de interpretação livre. Espécie de tradução-leitura envolvente convertida em transcriação (para usarmos aqui um conceito de Haroldo de Campos). É desde esse ponto de vista que me disponho a ler os poemas em processo que Denise Freitas, desde 2010, vem publicando em seu blog http://www.sisifosemperdas.blogspot.com/ . Com efeito, a menção lateral que ...
Ronald Augusto é poeta e ensaísta. Licenciado em Filosofia pela UFRGS e Mestre em Letras (Teoria, Crítica e Comparatismo) pela mesma universidade. É autor de, entre outros, Puya (1987), Vá de Valha (1992), Confissões Aplicadas (2004), No Assoalho Duro (2007), Cair de Costas (2012), Oliveira Silveira: poesia reunida (2012), e Decupagens Assim (2012). É colunista da revista http://www.mallarmargens.com/; e escreve quinzenalmente para http://www.sul21.com.br/jornal/colunista do site Sul21.