Breve entrevista
que concedi ao poeta João Pedro Wapler, também colunista do website O Café. Mais
em: http://www.ocafe.com.br/2013/05/19/que-os-mortos-enterrem-seus-mortos/
- Qual
a arte que mais instiga sua sensibilidade hoje?
O cinema, sem dúvida. É
impressionante como o cinema levou apenas, mais ou menos, meio século para se
firmar como arte autônoma, nesse curto período de tempo definiu e ensinou sua
gramática ao apreciador. E a partir de um estilo de elipses radicais,
conseguiu, no que toca ao quesito “contar uma história”, disputar a primazia
narrativa com o romance. Nenhuma outra arte fez um percurso tão veloz. Ok,
parte dessa velocidade deve ser creditada à dimensão industrial e tecnológica
do cinema, mas isso em fim de contas depõe ainda a seu favor, pois os
realizadores conseguiram criar obras primas mesmo sob a pressão dos tacanhos
interesses meramente mercantis.
-
Vejamos, um escritor ou crítico é restrito ao âmbito literário e lá saca de
tudo. Não procura muito outras esferas artísticas. É um caso recorrente. A
literatura está cada vez mais fechada em si ou dialoga cada vez mais com as
artes em geral?
Essa não me parece ser a figura
mais precisa tanto do escritor, quanto do crítico no quadro contemporâneo.
Aliás, quem pretende, hoje, seguir o rumo da literatura, sabe que não pode ser
apenas um escritor avestruz, fechado em seus limites. Não há dúvida de que ter
um conhecimento específico sobre o gênero é necessário, mas já não é
suficiente. Entretanto, o interesse, por parte do escritor, pelo contato com
outras esferas artísticas não deve se configurar numa tábua de salvação, quer
dizer, esse diálogo não deve ser do tipo oportunista ou no simples interesse de
uma sobrevida do campo literário. Que os mortos enterrem seus mortos.
- O cinema e o sistema do corte, da montagem lembram a tessitura poética, quanto a imagem. Poesia às vezes nem parece tanto com literatura. Poesia parece algo mais indefinível quanto linguagem. Poesia parece um gênero mais aberto que o romance e mais radical. A poesia é a salvação da língua?
A poesia não é salvação de nada. Além do mais ela não é
língua, mas linguagem. O grande problema para a poesia é essa superestimação (great expectations) que
as pessoas projetam no fazer poético, que não é senão um fazer. O que está por detrás
do processo compositivo do cinema é um tipo de função da linguagem (seja verbal
ou não) que é comum a outras formas de arte, trata-se da função poética. A
função poética chama a atenção para a própria linguagem, para a forma
significante que se opera diante dos nossos olhos. Metáforas, comparações,
elipses, reiterações e analogias, enfim, esses conceitos são comuns a todas as
artes, mesmo a ideia de antiarte supõe essas coisas. A poesia é, de fato, mais
aberta que o romance, mas isso entra na conta tão só das diferenças entre as
duas linguagens, não há mérito nenhum nisso.
- A gente mora do Brasil, por isso falamos sobre o Brasil, vamos lá: o que você, o senhor, tu acha da Academia Brasileira de Letras e da Feira Literária de Paraty ou de qualquer "feira literária"? Elas servem à arte de pensar ou a de aparecer?
Dizem que há sujeitos interessantes na ABL,
não sei. Manuel Bandeira entrou para Academia, Drummond não. A ABL é que nem o facebook, há amigos demais. Quanto às
feiras, me parece que elas são a vitrine do que está na superfície do meio
literário, do que, no momento, atrai a atenção. São eventos mais atentos ao
mercado do que a qualquer outra coisa.
- A
tendência é as pessoas lerem cada vez menos?
Acho que as pessoas estão lendo cada vez
mais. Agora, quanto a ler no suporte livro, eu não sei dizer se se lê menos, me
parece que se lê de maneira mais fragmentada, vários livros, partes de livros,
também em função das necessidades de formação (isto é, o leitor de literatura,
em sentido clássico, cursa o ensino superior, faz letras). Talvez o que
chamamos de “leitor comum”, este, sim, talvez esteja diminuindo. Mas isso é uma
questão para as pesquisas e as estatísticas
- A
poesia da geração anos 2000 me parece a menos instigante de todos os tempos.
Ela é de apartamento, cheirosinha, blogueira e digerível. Concordas?
Concordo e não teria mais nada a acrescentar.
Teria, sim. A geração dos anos 2000 também posa de revoltadinha. Os poetas são
maloqueiros bem nascidos, as poetas são feministas que não leram nada sobre o
movimento feminista.
- A
poesia brasileira não está engraçadinha demais?
Não só a poesia. Todos estão engraçadinhos.
As tiradas, os ditos, os trocadilhos, se transformaram na moeda corrente do
pensamento contemporâneo. É a idoelogia do stand-up.
Acho um saco.
Comentários
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