Entrevista publicada originalmente no site COMO EU ESCREVO, idealizado e administrado por José Nunes.
Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Começo o meu dia feito todo mundo,
acho. Não tenho uma rotina. Tenho, por enquanto, bastante tempo livre e isso me
agrada. De preferência evito compromissos pela manhã.
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual
de preparação para a escrita?
Trabalho em qualquer hora. Não tenho
ritual nenhum para começar a escrever.
Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você
tem uma meta de escrita diária?
Um pouco de cada coisa. Não tenho meta.
Nem sabia que essa categoria do ramo empreendedor , isto é, a “meta”, tinha se
tornado importante para a literatura ou para a prosa.
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas
suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Há situações
– nem sempre – em que vou preparando o terreno para o momento favorável. Faço
anotações de leitura, registro jogos de linguagem, analogias fônicas que
sustentam insuspeitas analogias semânticas; fico fuçando alguns idiomas, certas
palavras e expressões da fala ordinária, enfim, me coloco à disposição dos
diversos discursos e signos. Então num(a) (in)determinada ocasião, quando o
fortuito e o forçoso se encontram, o poema vem à tona.
Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo
de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos
longos?
Eu sou bem tranquilo quanto a isso tudo. Aos 57
anos da minha idade seria ridículo ficar refém dessas travas. Inclusive se, por
qualquer razão, acontecer de eu não mais escrever, arranjo outra coisa pra
fazer e a vida segue.
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão
prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Reviso até a hora em que devo enviar tudo
ao ocasional editor. Não mostro meus poemas a ninguém. Às vezes deixo a Denise
(minha esposa) ler algum inédito.
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros
rascunhos à mão ou no computador?
É uma relação medíocre, sei o indispensável para
escrever meus textos, editar meus blogs e interagir nas redes sociais. Escrevo
tudo no computador.
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para
se manter criativo?
Minhas ideias e formas vêm
majoritariamente de minhas leituras. Procuro ler autores que repetiram para aprender e que quando aprenderam
conseguiram ser criativos de verdade.
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos?
O que você diria a si mesma se pudesse voltar à escrita de sua tese?
A principal mudança é que deixei de ser tão
obsessivo com o processo compositivo. Hoje em dia resolvo meus poemas de
maneira rápida. Por outro lado, o tempo em que o poema fica bem guardado e ao
abrigo do interesse do leitor (quando a solução não se efetiva logo), tem sido
cada vez maior. O intervalo entre uma alteração e outra é cada vez mais
dilatado.
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro
você gostaria de ler e ele ainda não existe?
Gostaria de publicar um livro apenas
com meus poemas visuais. Não consigo imaginar um livro que eu gostaria de ler
que ainda não existe. É como imaginar o sentido de um poema antes de sua
presentificação ou de sua materialização enquanto ser de linguagem.
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