Ninguém me perguntou Ronald Augusto [1] Há muitos anos, numa galáxia distante, participei de um seminário da literatura que reuniu muitos escritores negros brasileiros e um outro tanto de escritores africanos de expressão portuguesa (assim se dizia). Não obstante a promessa de vários interesses em comum, algo estranho aconteceu. Os angolanos e moçambicanos não aceitavam muito bem a noção de literatura negra que à época defendíamos. Eles vinham de um contexto de lutas de libertação que exigia unificação em torno da conquista de sua independência em relação à Portugal. Aparentemente nossas lutas eram distintas. Estou rememorando isso com o intuito de explicar que essas experiências escriturais não formam uma mesma massa indistinta. Porque às vezes as literaturas africanas (os autores e as obras que as representam) são lidas como discursos que se relacionariam naturalmente com os textos de autores negros do Brasil e outras diásporas negras. Não obstante o desejo de aproxim
Ronald Augusto é poeta e ensaísta. Licenciado em Filosofia pela UFRGS e Mestre em Letras (Teoria, Crítica e Comparatismo) pela mesma universidade. É autor de, entre outros, Puya (1987), Vá de Valha (1992), Confissões Aplicadas (2004), No Assoalho Duro (2007), Cair de Costas (2012), Oliveira Silveira: poesia reunida (2012), e Decupagens Assim (2012). É colunista da revista http://www.mallarmargens.com/; e escreve quinzenalmente para http://www.sul21.com.br/jornal/colunista do site Sul21.