Ponciá Vicêncio e Conceição Evaristo, irmãs siamesmas? [publicado originalmente em https://gauchazh.clicrbs.com.br/cultura-e-lazer/livros/noticia/2024/04/conceicao-poncia-cluvi36l401d5012jz8r8e0gs.html ] Ronald Augusto 1 Proponho aqui uma leitura que admite a seguinte premissa: há, de um lado, a pessoa civil Conceição Evaristo e, de outro, a personagem Ponciá Vicêncio, entre ambas, como que mediando e interpretando as conjunções e disjunções dessa relação menos real do que ficcional, emerge o ego scriptor , isto é, essa coisa que, na ausência de melhor definição, poderia ser referida como o agente de uma poética, algo que existe ou que acontece apenas quando o processo narrativo se atualiza em linguagem. Na introdução à obra, Falando de Ponciá Vicêncio... , Conceição traduz essa ideia como “o ato da escrita”. O ego scriptor de Conceição Evaristo funciona como uma entidade que existe apenas enquanto performatiza um discurso estético-literário. O agente do ato da escrita exis
De tirar o fôlego Guto Leite * Olha! Difícil dizer que o leitor acabou de ler o melhor livro do Ronald Augusto... Até porque se trata de poeta excelente, que vai com firmeza do assombro lírico de À Ipásia que o espera à organização sofisticadamente profunda de Entre uma praia e outra , e crítico atento e agudo, de coerência invejável em matéria variada, para citar Crítica parcial (isso para falar só em livros dos últimos anos). Ok, se não posso dizer que é o melhor livro do Ronald, afirmo com tranquilidade que temos uma espécie de livro de síntese de uma trajetória, de uma posição, de uma acumulação, de um espírito, que faz eco, por exemplo, a obras como Itinerário de Pasárgada , com textos canônicos de Bandeira, ou Sem trama e sem final , coletânea mais recente de Tchekhov, colhidas de sua correspondência pessoal. Com o perdão da desmedida, o livro do Ronald é mais inusitado do que esses, visto que a maior parte dos textos vem do calor da hora do debate das red