Irene preta, Irene boa. Irene sempre de bom humor. Quem quer ver Irene rir o riso eterno de sua caveira? Parece que só mesmo no espaço sacrossanto da morte, onde deparamos a vida eterna, está permitido ao negro não pedir licença para fazer o que quer que seja. Não se pode afirmar, mas talvez Manuel Bandeira tenha tentado um desfecho ambíguo para o seu poema: essa anedota malandramente lírica oscila entre “humor negro” e humor de branco, o que, afinal de contas, representa a mesma coisa. No além-túmulo – e só mesmo aí –, não nos será cobrado mais nada. Promessa de tolerância ad eternum , e sem margens, feita por um santo branco, esse constante leão de chácara do mais alto que lança a derradeira ou a inaugural luz de entendimento sobre a testa da provecta mucama. Menos alforriada que purificada pela morte, Irene está livre de sua “vida de negro”, mas, desgraçadamente, só ela dá mostras de não ter assimilado isso ainda; quando a esmola é demais o cristão fica ressabiado. Na passagem dest
Ronald Augusto é poeta e ensaísta. Licenciado em Filosofia pela UFRGS e Mestre em Letras (Teoria, Crítica e Comparatismo) pela mesma universidade. É autor de, entre outros, Puya (1987), Vá de Valha (1992), Confissões Aplicadas (2004), No Assoalho Duro (2007), Cair de Costas (2012), Oliveira Silveira: poesia reunida (2012), e Decupagens Assim (2012). É colunista da revista http://www.mallarmargens.com/; e escreve quinzenalmente para http://www.sul21.com.br/jornal/colunista do site Sul21.
Comentários
é interessante porque parece tanto um buraco na parede quanto um buraco no chão.
e são dois buracos.
hermenêutica = interpretação.
dois buracos = duas verdades? duas possibilidades? certo ou errado?
um bit de informação = sim/não
abbracci
parabéns Ronald!
um abraço
excursão a um só tempo vertical (em profundidade e em extração de algo que está no texto), como de transporte para o texto (daí a idéia em relevo) do que se tem e se leva para o texto (idéia, repertório, imagem, etc). perspectivas insinuadas pela sombra em contorno.
o desenho em perspectiva atordoante passa esse momento ambíguo em que a idéia vertida na página se presta tanto a propecção quanto ao confronto, tanto avoluma-se quanto se aprofunda. ora prestando-se a uma construção, ora se prestando a uma escarificação, corte profundo e em profusão