Esse ímpeto é mais poderoso do que, por exemplo, ampliar os conhecimentos sobre a arte da poesia. Enfim, a maioria quer saber se têm jeito pra coisa. Se o que escreve presta ou não. Infelizmente, não há resposta cabal para essa angústia.
Primeiro porque, como afirma W. H. Auden, o percurso textual do verdadeiro artista denuncia um progressivo senso de dúvida. Isto é, quanto mais experiência ele adquire mais incerto o nosso herói se sente com relação à qualidade e ao alcance do seu trabalho. Mesmo a palavra do “ministrante” (expressão terrível), não será inteiramente de confiança. Muitos autores consagrados falharam na avaliação de sujeitos que iniciavam suas carreiras literárias. O mergulho no acervo da tradição e a rivalidade virtuosa que se estabelece entre os iguais potencializam o sentimento de incerteza em relação a nós mesmos e ao alheio.
E, segundo, porque a prerrogativa de tal aferição, fica a cargo da recepção (o sistema literário, no nosso caso) e do tempo. A recepção às vezes é perversa. Há uma dialética um tanto tensa entre os interesses dos grupos envolvidos, as contingências históricas e o transcurso mais demorado do tempo onde as coisas se decantam.
Dois exemplos relativos à difícil avaliação da qualidade de um trabalho artístico: Kafka e Arthur Bispo do Rosário.
O primeiro pediu para que depois de morto seus papéis fossem queimados. Não foi atendido. O artista brasileiro, um indigente negro acolhido num manicômio, é guindado, contra a sua vontade, à categoria de criador de vanguarda; Bispo do Rosário dizia que seus mantos não eram arte, mas coisas sagradas cuja realização tinha a ver com uma missão divina. Ninguém deu a mínima. E muitos ganharam grana com as obras do sacerdote alienado.
Quem estava com a razão?
Comentários
Creio que todos tecemos mantos sagrados com a palavra, que de fato não tem utilidade alguma fora do campo do sagrado.
Quem diz se somos escritores ou poetas, são os outros a ler o que escrevemos. o verdadeiro poeta está mergulhado em sua obra, que nunca estará completa.
grande ab e mande bala no seu blog, sempre passo pra ver se escreveu algo novo,
leonardo aldrovandi