por Eduardo Sinkevisque
(em: http://blogmenos.tumblr.com/post/82800519251/brevidade-de-brevidade-na-boca)
BREVIDADE DE BREVIDADE NA BOCA
a propósito do Cair de Costas (Éblis,
2012), de Ronald Augusto
Li com a boca. Com dor de dente, cárie na raiz,
gengiva exposta. Inegável manejo com a linguagem, as linguagens verbivocovisuais, verbais,
visuais. Traquejo. Ronald sabe do riscado. Construção de linguagem, invenção,
arranjo, desarranjo de composição compósita que não é composição. Densidades e
respiros, disposições, humores, pathos. Tem Dante, mas não tem
Beatriz a nos guiar, embora haja vulto, fantasma dela.
Li com o livro na perna. No colo, como dizem,
Oswald lia. Não vou teorizar amigo. Nem por isso, li nas coxas.
Posso te contar de algumas das exclamações que
marquei e as páginas em que na numeração fiz círculos: página 41, a epígrafe de
Machado; a página 43, número circundado; páginas 48/49, idem; página 51, onde
terminaria o poema em “estilhaços”; páginas 53/54 …
Como leitor, confesso, somente não li Cair
de Costas antes por medo. Poeta feroz. Poesia vociferante, “voz
feirante” da ironia. Poeta cão. Poeta cão sem plumas. Homem do Beira-Rio.
Fiz intervenções no livro, no exemplar a mim
concedido. Sujei-o com minhas mãos de cigarro e chuva. Antes, impregnado objeto fechado, em meu escritório
sendo defumado.
Terminada a leitura, me ocorre, no ponto final sem
ponto final da leitura: o livro de Ronald Augusto é o caso de se cantar
sem música quepeixe bom dá no riacho.
A brevidade é brevitas, aspecto
lacunar, elíptico, telegráfico da gráfica de Ronald que, no posfácio de
Cândido Rolim, é destrinchada. A brevidade é a resposta da poesia em diálogo.
No livro, pululam carpas de avermelhadas peles
inscritas. Rosas roxas simbólicas de porradas.
Não quis explicar Ronald Augusto, nem a mim, leitor
do poeta. O estranho (e bom, acho) é que o “Morro Velho” que me ocorreu no
término da leitura foi totalmente inconsciente. E foi porque vi, no livro,
muito peixe bom pescado pelo poeta, forjado (no melhor do termo) pelo poeta do
“Cair de Costas”. Mas ouvindo a música, fiquei de cara com o inconsciente. A
letra tem e não tem a ver. Tem a ver num não sei quê que me diz: o riacho de
Ronald não é riacho fácil. É riacho de peixes raros, daí as carpas como signo,
para mim, dessa raridade. As coisas vão se formando. Assim como a obra é em
progresso (em andamento), as recepções também o são. É evidente que causa
efeito, impacto. Daí a dor de dente. É com dor que se lê, mas não dor piegas,
dramática no sentido comum do termo. Com dor de intrínseco, de intenso, de
tensão de riacho rio denso.
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