a) Antipoesia / poesia pura. Poesia pura - isso faz supor a existência de coisas abjetas que jamais penetrariam na economia estética do poema. A vida é um defeito na pureza negociada do “como se” do viés artístico. Arte e vida não se confundem, mas também não quer dizer que haja uma energia antitética entre ambas. A arte é parte inextrincável da vida. Pano rápido. b) Na música e, de resto, na arte contemporânea ou de vanguarda, a noção de “não-musical” ou de "não-artístico" perde sentido. Por exemplo, na música indeterminada do compositor John Cage, o silêncio que imanta tudo aquilo que, ao primeiro ouvido, surge como “não-musical”, reivindica o status de música, música possível, provável. c) Na intenção de exaurir os sentidos do seu objeto de análise (enquanto o mesmo sucumbe sob as ferramentas afiadas que manipula), o crítico eminente dos manuais e suplementos de literatura, faz da peça literária um mero veículo por meio do qual tenta impor a sua leitura como paradigmátic...
Ronald Augusto é poeta e ensaísta. Licenciado em Filosofia pela UFRGS e Mestre em Letras (Teoria, Crítica e Comparatismo) pela mesma universidade. É autor de, entre outros, Puya (1987), Vá de Valha (1992), Confissões Aplicadas (2004), No Assoalho Duro (2007), Cair de Costas (2012), Oliveira Silveira: poesia reunida (2012), e Decupagens Assim (2012). É colunista da revista http://www.mallarmargens.com/; e escreve quinzenalmente para http://www.sul21.com.br/jornal/colunista do site Sul21.