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Mostrando postagens de novembro, 2014

Sem acesso a seus seres-signos vitais

Anotações sobre a exposição Thomas Bernhard e seus seres vitais Período: de 16 de outubro até 02 de novembro de 2014. Local: Memorial do Ministério Público do Rio Grande do Sul. Porto Alegre. Se é verdade, como afirma Thomas Bernhard, que quanto mais nos aproximamos de um escritor, mais nos afastamos dele, pois ter acesso a aspectos de sua vida pessoal e privada significa, em alguma medida, perder de vista o significado de sua literatura, então imagino que para quem o desconhecia totalmente como eu, conhecer, ainda que de modo superficial, alguns seres e signos de sua experiência trata-se de um gesto do mais inócuo voyeurismo. Por outro lado, me senti como se eu vagasse por uma câmara mortuária alheia (misto de nostalgia e pudor) ou como se eu inspecionasse o álbum-lápide de um morto com quem eu não tivesse tido a menor intimidade. No entanto, a exposição serve também de convite a um mergulho na obra de Thomas Bernhard, porque, sendo um re

PRA QUE POESIA NA ERA DA TÉCNICA?

PRA QUE POESIA NA ERA DA TÉCNICA? [1] 1 a pergunta propõe um falso problema. 2 essa indagação me parece complementar e secundária, não é essencial à poesia; a questão poderia ser apresentada, por exemplo, ao jornalismo impresso, ao teatro, ao ensino em sala de aula, às relações afetivas do nosso tempo de redes sociais. a “era da técnica” é uma instância do nosso território cultural.  a questão desenha um quadro em que a poesia se comporta quase como um glorioso anacronismo.   3 a poesia está sempre na alça de mira; de quando em quando volta a temporada de caça à poesia, ela sempre está sob luz suja dos interrogatórios; sempre tem alguém disposto a fazer o poeta objeto de uma pegadinha. a lógica da pergunta admite uma série de variações: pra que poesia na era do genocídio dos povos indígenas? pra que poesia na era da escravidão negra levada a efeito pelo poder colonial? pra que poesia na era do extermínio judaico realizado industrialmente pelo nazismo? 4 a per

Um griot que canta e conta: todos os orikis dançam

Sempre que me perguntam: qual a sua expectativa em relação ao papel do afrodescendente em nossa sociedade, hoje e no futuro? Meu primeiro impulso é responder esboçando um panorama pessimista, porque o Brasil, historicamente, dá de ombros a essa questão. No entanto, observando a coisa por outro ângulo, sou obrigado a considerar situações que, de algum modo, têm a capacidade de fazer com que minha expectativa com relação ao devir seja das melhores. Não resta dúvida de que vai demorar um pouco até que sejamos respeitados de maneira que isso não soe como um favor que nos fazem, mas estamos num caminho sem volta. Por exemplo, o uso da internet tanto como fórum de debates como de denúncia será cada vez mais necessário. Não faz muito tivemos provas disso, refiro-me à infeliz campanha publicitária que recentemente tentou maquiar mais uma vez Machado de Assis como um sujeito branco. Enfim, sempre fomos e seremos, nós negros, importantes para a sociedade brasileira, só falta que is

anticrítico

um mate com Gervasio Monchietti

Conheci Gervasio Monchietti em 2011 durante um festival de poesia em Belo Horizonte. De lá até aqui seguimos travando uma agradável interlocução por meio da internet e das redes sociais. Em 2013 participei do Festival Internacional de Poesía de Rosario, evento em que Gervasio trabalha como curador. A breve entrevista que ofereço ao leitor é mais um passo nesse processo de interlocução. Em retribuição a uma entrevista que Gervasio havia realizado comigo, resolvi provocar o poeta solicitando suas considerações a propósito das mesmas perguntas que ele havia me apresentado. Nessa conversa tentamos nos familiarizar não só com os processos criativos e as referências literárias um do outro, mas também com o desenho das forças envolvidas em nossas respectivas cenas contemporâneas no que diz respeito à poesia. Nos últimos anos comecei a observar uma aproximação mais efetiva entre poetas e escritores brasileiros e seus iguais argentinos, uruguaios, paraguaios e chilenos. Espero que e