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Mostrando postagens de maio, 2017

funil às avessas

O funil às avessas de José Weis Ronald Augusto [1] Em uma cena do filme Les Dames du Bois de Boulogne (1945) cuja direção é de Robert Bresson e o roteiro do poeta Jean Cocteau, um dos personagens afirma logo nos primeiros minutos da narrativa que “não há amor, apenas provas de amor”. Quando penso a propósito das coisas da poesia me sinto impelido a dizer algo análogo: não há poesia, apenas provas de poesia. Assim, a leitura de Cachorro não é uísque , de José Weis, em alguma medida dá corda a essa minha percepção. Com efeito, José Weis parece concordar com minha tese de que a poesia não existe quando, por exemplo, define de modo paradoxal sua experiência como esse “Funil às avessas, [que] derrama pra cima” (a poesia) através dos seguintes predicados: a poesia não cura, “sempre dá uma curva”, ela é intocável , incansável . A poesia não existe, o que existe mesmo é a obra desse ou daquele poeta, “um troço sensível pra cachorro” – se quisermos adotar como explicação essa metá

a poesia não é uma panaceia

Na recente edição de Estudos de literatura brasileira contemporânea , n. 51 (maio/agosto) foi publicado um importante dossiê que reúne uma série de entrevistas realizadas com escritores/as negros/as ao longo do segundo semestre de 2016. Para quem quiser conferir o conjunto das entrevistas segue o link: http://periodicos.unb.br/index.php/estudos/index É importante advertir que nem todas as entrevistas foram publicadas na íntegra, foi o caso da minha, por isso resolvo publicá-la aqui sem as exclusões definidas pelo critério dos entrevistadores/editores. Duas ou três perguntas que me foram feitas (e respondidas) acabaram por ser descartadas. Publico tudo por estima ao detalhe. Entrevista: Ronald Augusto Qual a sua relação com a literatura? Por que você escreve, afinal? É uma relação um pouco conflituosa, por algumas razões. Uma delas, a impaciência com a literatura, tem mais a ver com as circunstâncias de lugar e tempo onde minha prática está implicada, ou seja, t

o drama da filosofia antropológica

Ensaio sobre o homem : o drama da filosofia antropológica Ronald Augusto [1] Antes da resenha Quando um prefácio vence tanto os limites protocolares dos agradecimentos e das ofertas às pessoas que se mostraram importantes à consecução da obra, como põe de lado o rodeio das informações que a bem da verdade não colaboram em nada para a sua compreensão, pode-se dizer que neste caso estamos diante de um texto relevante, integrado e indispensável ao conjunto. Isto é, uma apresentação com estas características não pode ter sua significação subestimada. Embora Ernst Cassirer não descarte de todo alguns traços tradicionais da forma do prefácio – os agradecimentos e os reconhecimentos, por exemplo, estão lá –, em seu prefácio ele afirma e prepara o leitor para algumas questões que julgo importante destacar. Em primeiro lugar, Cassirer confessa que em Filosofia das Formas Simbólicas (1923) desprezou a máxima estilística de [ Gotthold Ephraim]   Lessing segundo a qual “Um livr