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Mostrando postagens de março, 2015

Os interstícios da linguagem nas poéticas de Ronald Augusto e Sangare Okapi

por Ricardo Riso [1] A poesia des(a)fia a linguagem. O poeta, seguindo a origem grega da palavra, é aquele que faz. O poeta cria e recria a linguagem. Diante disso, temos representações poéticas dissonantes que não se enquadram em determinadas tendências, escolas e sentidos assinalados por uma crítica acadêmica que, muitas vezes, se posiciona na dianteira dos poetas e suas obras. Nessa perspectiva, deparamo-nos com certas amarras na literatura brasileira e nas literaturas africanas de língua portuguesa baseadas em questões que fogem da simples análise do texto literário, mas que envolvem aspectos identitários, étnico-raciais, de classe, de gênero, entre outras categorias que contribuem para um caráter homogêneo dessas literaturas constituídas em cânones, por conseguinte, relacionadas a ideias identitárias que representam seus países. Trazer para o centro do debate a questão racial aguça a percepção para restrições do campo da literatura comparada, colabora para o tensionamen

Musil: o obsceno, o patológico e os desejos artísticos

Ronald Augusto [1] Essas ligeiras considerações que submeto à apreciação do leitor são resultantes da leitura do ensaio “O obsceno e o patológico na arte” (1911) de Robert Musil [2] , e o que se procura, através delas, é apresentar e analisar sumariamente os argumentos articulados por Musil para justificar a representação dos elementos obscenos, doentios e aparentemente pornográficos na arte. Cabe referir que a tradução utilizada para o presente trabalho foi realizada pela escritora e crítica Kathrin H. Rosenfield, de quem fui aluno na disciplina de Filosofia da Arte ao longo do segundo semestre do ano de 2014. Em primeiro lugar podemos afirmar que Musil tem a noção de que a representação dos elementos obscenos, doentios e pornográficos na arte, além de ser algo que diz respeito à autonomia criativa, tem a ver ainda com uma espécie de terminação do artista em fazer uma inspeção radical nos âmbitos mais secretos do desejo humano, visando com isso uma compreensão mais desanuvi