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Mostrando postagens de 2021

Sopapo, de Richard Serraria

  Sopapo, um heterônimo do poeta-cancionista Richard Serraria Ronald Augusto [1]   Não é exagero considerar que T. S. Eliot, com a publicação do poema The waste land , em 1921, inaugurou uma espécie particular de tradição no que diz respeito à economia dos significados que, por exemplo, os dispositivos paratextuais podem ofertar à fruição e à imaginação do leitor diante de um conjunto de poemas. Toda a série de mensagens que acompanham e ajudam a explicar determinado texto – sobrecapa, títulos, subtítulos, introdução, notas de rodapé, e assim por diante –, se constituem em formas de paratexto. Essas notas ou comentários adjacentes ao poema indicam tanto promessas de sentidos a serem conquistados como, em certa medida, servem para instaurar uma contenção ao apetite interpretativo do leitor, isto é, para além das margens desse círculo de giz, a validade de algumas leituras pode ser objeto de suspeição. As anotações ao pé do poema, redigidas pelo próprio autor, às vezes nos adve

a transnegressão crítica de Ronald Augusto

  Ao leitor a desobediência: a  transnegressão  crítica de Ronald Augusto Giovanna Soalheiro Pinheiro *   “O compósito verbal  transnegressão , cunhado por ele [Arnaldo Xavier], tenta dar conta – através da justaposição dos vocábulos ( transgressão  +  negro ), ao estilo de montagem cinematográfica – de uma proposta estética interessada em lesar tanto as ideias feitas que orientam nossas filosofias de vida, quanto a imagem de um cânone totalizante, “universal”, vantajoso (para quem?), a ponto de poder ser aplicado em qualquer tempo-espaço” (AUGUSTO, Ronald, p. 119). Esse fragmento, extraído do ensaio “Transnegressão”, do recente livro  O leitor desobediente  (2020), de Ronald de Augusto – publicado pela Editora Figura de Linguagem, de Porto Alegre  –  invoca-nos a uma tarefa interessada diante de nossas leituras. A palavra  interessada  aqui pode ser compreendida não apenas como gesto de produção crítica, mas principalmente como abertura sincrônica, para relembrar Haroldo de Ca

A perpetuação do racismo implícito que ofende sem ofender

  A perpetuação do racismo implícito que ofende sem ofender Ronald Augusto [1]   O verso “povo que não tem virtude acaba por ser escravo” serve à maravilha às formas ambíguas das práticas racistas, pois ao contrário do racismo às claras ou explícito, esse verso ofende sem ofender. Se é verdade que povos escravizados não são necessariamente destituídos de virtude ou bravura (e podemos concordar nesse ponto), então mais indefensável se apresenta o significado da passagem do hino gaúcho. A condição de escravizado, ou de um povo sujeitado à força, é complexa e não se pode afirmar que essa condição indica um grupo sem valor, sem capacidade de reação. Recentemente assisti a uma entrevista do pensador Silvio Almeida onde a certa altura um dos interlocutores (um jornalista negro) comentava que de acordo com sua lembrança os pais infelizmente nunca lhe falaram com franqueza a respeito do racismo, o assunto parecia ser negado ou empurrado para debaixo do tapete. O jornalista entendeu que