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Mostrando postagens de junho, 2016

Um acervo de fugas

Breve exercício para fugitivos , esse conjunto de textos de Rubens da Cunha, põe em movimento pensamentos-arte que confinam com a ideia de que os discursos poéticos são volições significantes determinadas a uma permanente conquista das imprecisões da razão e da emoção que requerem formas plásticas capazes de apresentá-las. Cada texto é tanto uma vertigem onde o prosaico e o bizarro se atritam, quanto um sumidouro de linguagem que se processa através do corpo a corpo do poeta com a matéria verbal e as noções empíricas e teóricas da função estética. Por essas e outras é que não me parece despropositado afirmar que Breve exercício para fugitivos se situa criticamente aquém e além do conceito consagrado de crônica.  Rubens da Cunha, poeta e autor de Curral (Editora de UFSC, 2015), leva a efeito a ultrapassagem das convenções da prosa, mas também das convenções e das fronteiras entre os gêneros. Se a poesia se deixa perturbar por uma entropia discursiva, a prosa, por seu turno,

As últimas semanas em poucos traços: crônicas-relâmpagos

[fotograma do filme Assalto ao trem pagador (1962) de Roberto Farias] Ronald Augusto [1] Recentemente participei de um encontro muito bacana com os alunos da ocupação da Escola Ernesto Dornelles. Cardápio: literatura negra, homofobia, machismo, racismo, história, política, filosofia, afetos, poesia, enfim, só coisa boa para debater com ganas. * Vocês que apoiaram o impeachment com o pretexto de varrer a corrupção do mundo conhecido estão pagando o maior mico da história, seus manés. Morram de frio mergulhados no laguinho do Parcão. Os apoiadores do golpe agora batem à porta do interino e ele, em agradecimento aos serviços prestados, tem de recebê-los, estejam ou não acompanhados de ex-atores pornôs. * Também não faz muito a Folha de S. Paulo publicou artigo do Cristovão Tezza em que o autor diz que não vê golpe nenhum acontecendo. Muita gente talvez tenha ficado chocada com isso. Eu não. Esse romancista sempre me pareceu conservador e mediano. P

Enquanto o leitor habita a poesia de Liana Marques

Ronald Augusto [1] A poesia de Liana Marques habita a experiência, sim. Ainda quando sua voz poética se lance a habitar as câmaras secretas do poema e seus dilemas construtivos, ela o faz sempre de janelas abertas, ou seja, transportando para o centro compacto desse objeto verbal a instabilidade do seu mundo claro e ensolarado. A poeta carrega sua linguagem com aquela matéria incandescente de que fala a epígrafe de João Cabral, a saber, a matéria-vida explosiva que “não foi feita para ser guardada num cofre”. E talvez seja mesmo por essa curiosa razão que os poemas de Liana Marques conseguem ser indiretos e sugestivos e ao mesmo tempo jamais se revelem fechados a sete chaves. Enquanto habito reúne uma sequência de imagens e processos discursivos evocativos tanto de um cotidiano fortemente transfigurado, como de um espaço de memórias submetido à decupagem estética. Liana Marques se dobra sobre a experiência do real na escolha demorada dos melhores instantâneos verbais com