Mistificação e cumplicidade Ronald Augusto [1] Em geral a arte é um espaço propício à mistificação. Ao senso comum a figura do artista serve tanto como alvo de desdém, quanto de adoração. Os artistas provocam um sentimento de inveja em muitas pessoas porque fazem o que gostam, isto é, são sujeitos livres. Não estariam presos a nenhum tipo de convenção. O poeta é um fingidor, mas é incitado a desnudar o rei (dizer a verdade doa a quem doer), sua imaginação sem fios às vezes é causa de censura, às vezes é motivo de admiração. Artistas e máscaras se dão muito bem, desde sempre. Acontece que em alguns momentos essas licenças concedidas ao artista produzem realidades e situações que servem apenas para deprimir a relevância da própria arte. O que me interessa discutir aqui é o problema da mistificação e a tolerância de que se beneficia especificamente no território da literatura (poesia, prosa...). Quem acompanha minhas intervenções sabe que não passo pano para nenhum tipo
Ronald Augusto é poeta, músico e ensaísta. Licenciado em Filosofia pela UFRGS (2018). É autor de, entre outros, Homem ao Rubro (1983), Puya (1987), Kânhamo (1987), Vá de Valha (1992), Confissões Aplicadas (2004), No Assoalho Duro (2007), Cair de Costas (2012), Oliveira Silveira: poesia reunida (2012), e Decupagens Assim (2012). É colunista da revista http://www.mallarmargens.com/; e escreve quinzenalmente para http://www.sul21.com.br/jornal/colunista do site Sul21.