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Mostrando postagens de setembro, 2011

A falência da poesia e do crítico moralizador

Embora o exercício da crítica literária – que não é senão uma forma de fazer relações sígnicas e de interlocução parcial a partir de um objeto verbal construído seja sob que motivação social, individual ou metafísica, enfim, desde os contornos de uma objetividade em perspectiva ou, ainda, desde uma subjetividade tornada precisa: o poema mesmo, coesão fundo-forma –, enfim, embora essa crítica me interesse muito, sei que se trata de um texto segundo, subsidiário, uma forma discursiva circunscrita a margear os rastros da linguagem do poeta (se não soasse retrô eu poderia dizer genericamente “do artista”, envolvendo outros modos de expressão, mas esse comentário se restringe, infelizmente, às coisas da poesia). Talvez me acusem de reducionismo, mas, encurtando o caminho, prefiro concordar com a ideia de que a crítica é tão-só mais uma forma de paratexto, ou seja, no sentido em que, segundo Gérard Genette, “o ‘paratexto’ consiste em toda série de mensagens que acompanham e ajudam a explic

Poesia sem pele e os seus celibatários

por Ronald Augusto [1] O título do conjunto aponta para a ideia-imagem da poesia como carne viva; corpo tecido, construído, coisa mortal redimida pela linguagem. Ou ainda, como se a poesia fosse um discurso que, à força de desnudar tanto a fragilidade do universo (no sentido de ser algo que veio a se constituir contra todas as probabilidades), como o absurdo da condição humana, teria que se submeter necessariamente ou, antes, simultaneamente, a um autodesnudamento. Talvez por isso, Poesia sem pele apresente um significativo número de metapoemas ou de poemas que, ao mesmo tempo, pensam aspectos relativos às determinações da poesia, bem como investigam os dilemas da intuição estética. Ou seja, a poesia desnuda sua pureza aos seus celibatários, os leitores a serem comovidos. Comover envolve algumas dessas acepções: provocar ou sentir enternecimento; fazer perder ou perder a dureza de alma. Lau Siqueira inscreve sua poesia (corro o risco de simplificar demais, mas vá l

escavando a tradição no presente

O que é e já foi, um dia, o homem – ou o ego scriptor de – Edson Cruz, está muito bem presentificado via linguagem (sistema que se exaure e se renova a cada gesto poeticamente crucial) nesse conjunto de poemas intitulado Sambaqui . Combinação de ecos, camadas: acervo harmônico , em sendido marioandradino, isto é, por oposição ao melodioso , ao dócil. O soft de base e o hard alusivo, entrelaçados em sua poesia, reconhecem similaridades entre John Cage e o samba, entre as redundâncias e a vertigem da cegueira, entre a dádiva imerecida e o sal que corrói a pele da alma. Edson Cruz é um poeta que mobiliza as palavras no poema de modo a deslustrar o entendimento pela intuição e a sugerir o entulho no antolho do sabido. O silêncio, constitutivo da composição do poema, uiva vivo em Sambaqui , para Edson Cruz trata-se de um “cão sem dono/ entregue/ à própria sorte”.