Dizer que Rapace de André Capilé é um pequeno e intratável conjunto de poemas onde uma antitradição aparece em movimento e em fragmentos que jamais se unirão, isto é, dizer que esta experiência de linguagem é resultante do desejo (sincronia) que embaralha o fichário (diacronia) do acervo. Dizer que Rapace é exusíaca expropriação do legado. Dizer que, para o nosso tempo, Rapace pode ser a transluciferação do Losango Cáqui do mulato controverso Mário de Andrade. Quase a mesma gana de levar à derrisão o sonho do poema classudo. Quase a língua de todos os instantes dando um drible – o corpo para um lado, a bola para o outro – na antiestocástica do poema. Dizer que André Capilé projeta os dados compositivos do poema além do círculo da metaforização ornamental; dizer, um pouco mais, que o poeta nessa “demorada hesitação entre som e sentido”, nesse redemoinho de morfemas, transfere ao poema toda uma anamorfose de meditados maldizeres congeniais ao “ fine excess da poes...
Ronald Augusto é poeta e ensaísta. Licenciado em Filosofia pela UFRGS e Mestre em Letras (Teoria, Crítica e Comparatismo) pela mesma universidade. É autor de, entre outros, Puya (1987), Vá de Valha (1992), Confissões Aplicadas (2004), No Assoalho Duro (2007), Cair de Costas (2012), Oliveira Silveira: poesia reunida (2012), e Decupagens Assim (2012). É colunista da revista http://www.mallarmargens.com/; e escreve quinzenalmente para http://www.sul21.com.br/jornal/colunista do site Sul21.