I
Alguém já disse que a expressão “poesia formalista” seria uma redundância, porquanto, poesia é forma, mesmo. Ou seja, no poema o que se entende por “conteúdo” não guarda em si aquela dimensão de “preenchimento com algo de profunda relevância”, já que ele resulta, em fim de contas, em mais um elemento formal - nem menor nem maior que outros -, integrado, por sua vez, ao construto da obra.
Alguém já disse que a expressão “poesia formalista” seria uma redundância, porquanto, poesia é forma, mesmo. Ou seja, no poema o que se entende por “conteúdo” não guarda em si aquela dimensão de “preenchimento com algo de profunda relevância”, já que ele resulta, em fim de contas, em mais um elemento formal - nem menor nem maior que outros -, integrado, por sua vez, ao construto da obra.
Por outro lado, a idéia de poesia comercial pode ser interpretada como uma contradição entre termos, já que em torno à área semântica do substantivo comércio, aprendemos a reconhecer, de modo figurado, a comunicação (de algo) e/ou a relação estreita entre pessoas. Mas, o poema trata-se de um hipossigno, vale dizer, ele não se refere senão a si mesmo. A idéia de uma poesia comercial pressupõe a projeção do útil sobre o fruível no que respeita ao tratamento com a linguagem. Há poesia ruim, quanto a isso podemos entrar em acordo. Mas, se é comercial há chance de que não seja bem poesia. Por outro lado, como se remunera o trabalho de um poeta sem que um contrato dessa espécie não resulte na sua corrupção? E como relacionar à “eficiência de rebanho”, requerida pelo modo capitalista de produção, o fracasso e o impreciso constitutivos da prática poética que é, antes, improdutiva, impertinente e não-utilitária?
Portanto, a indignação estetizante de Augusto de Campos dizendo, num seu poema, que “não se vende”, além de ser redundante, tem algo de moralismo teatral. Talvez tenha faltado ao poetamenos, ao poeta da mudez e do “ex-tudo”, aprender a lição de Pessoa/Ricardo Reis, pois numa das odes do heterônimo pode-se ler: “Cala e finge./ Mas finge sem fingimento”. A condição mesma do poema como ser de linguagem, inadequado à comunicação do que quer que seja, exceto a de sua própria realidade sígnica, já o consagra como coisa invendável. Não é necessário que disso se faça uma bandeira.
II
“A poesia está mais perto da música e das artes visuais do que da literatura”, citação mnemônica. Hoje em dia poderíamos ampliar o parentesco incluindo o cinema. Muitos se opõem a esta idéia de Pound. Com efeito, ela provoca algum desconforto, principalmente em quem sempre identificou na literatura este arco generoso a abrigar todas as manifestações verbais escritas e marcadas por uma mediana desenvoltura de imaginação. Mas para Ezra Pound, a literatura não representa senão a forma refinada assumida por esta instituição pernóstica conhecida no mundo real como “sistema literário”. Esta proximidade - intuída ou tida como vantajosa por parte de Pound - entre a poesia e tudo o que não fosse literatura stricto sensu, só confirma a devoção do poeta norte-americano a esta arte que é, toda ela, apenas “cernes e medulas”. E, a cada momento, o poeta nos lembra de que há um esforço sem margens por detrás deste “apenas” e que, neste caso, sim, a literatura-sistema é incapaz de experimentar e de promover.
Comentários
Bah, maravilha de frase(s).
A vida,alma, a poesia não deveraim ser comercializadas... no entanto?... para isso, temos que seguir conVersando e muito.
Beijos.