Ronald Augusto [1] No poema “Arte de amar” Manuel Bandeira afirma que “os corpos se entendem, mas as almas não”. Bandeira vislumbra tal desfecho para o poema porque simplesmente as almas são incomunicáveis e só encontram satisfação em Deus. O pano de fundo é nietzschiano. Bandeira propõe a reversão moral da consagrada antinomia entre corpo e alma no interior do pensamento ocidental. O poeta trata o corpo com uma profunda compaixão. Mas o estilo da suspeição que Nietzsche nos legou também se projeta sobre a metáfora do corpo. Qualquer corpo, hoje, já não é mais aquele sugerido no poema modernista. Anatomia da pedra & tsunamis , em certa medida, faz alusão a esses dilemas. Mas antes de seguir com essa leitura, preciso abrir um parêntese. Ainda que Rubens da Cunha, em seu prefácio, nos faculte a suposta chave léxica ao sentido da obra, a saber, que entre suas capas se encontram poemas nascidos ou motivados a partir do trágico terremoto ocorrido no Haiti em 2010, ...
Ronald Augusto é poeta e ensaísta. Licenciado em Filosofia pela UFRGS e Mestre em Letras (Teoria, Crítica e Comparatismo) pela mesma universidade. É autor de, entre outros, Puya (1987), Vá de Valha (1992), Confissões Aplicadas (2004), No Assoalho Duro (2007), Cair de Costas (2012), Oliveira Silveira: poesia reunida (2012), e Decupagens Assim (2012). É colunista da revista http://www.mallarmargens.com/; e escreve quinzenalmente para http://www.sul21.com.br/jornal/colunista do site Sul21.