O funil às avessas de José Weis Ronald Augusto [1] Em uma cena do filme Les Dames du Bois de Boulogne (1945) cuja direção é de Robert Bresson e o roteiro do poeta Jean Cocteau, um dos personagens afirma logo nos primeiros minutos da narrativa que “não há amor, apenas provas de amor”. Quando penso a propósito das coisas da poesia me sinto impelido a dizer algo análogo: não há poesia, apenas provas de poesia. Assim, a leitura de Cachorro não é uísque , de José Weis, em alguma medida dá corda a essa minha percepção. Com efeito, José Weis parece concordar com minha tese de que a poesia não existe quando, por exemplo, define de modo paradoxal sua experiência como esse “Funil às avessas, [que] derrama pra cima” (a poesia) através dos seguintes predicados: a poesia não cura, “sempre dá uma curva”, ela é intocável , incansável . A poesia não existe, o que existe mesmo é a obra desse ou daquele poeta, “um troço sensível pra cachorro” – se quisermos adotar como explicação essa metá...
Ronald Augusto é poeta e ensaísta. Licenciado em Filosofia pela UFRGS e Mestre em Letras (Teoria, Crítica e Comparatismo) pela mesma universidade. É autor de, entre outros, Puya (1987), Vá de Valha (1992), Confissões Aplicadas (2004), No Assoalho Duro (2007), Cair de Costas (2012), Oliveira Silveira: poesia reunida (2012), e Decupagens Assim (2012). É colunista da revista http://www.mallarmargens.com/; e escreve quinzenalmente para http://www.sul21.com.br/jornal/colunista do site Sul21.