O princípio da tolerância enquanto fachada (III) Ronald Augusto [1] O melhor modo de segurar o chicote Em um dos seus escritos Machado de Assis (ou pode ser que isso se encontre na voz de um de seus personagens...) afirma, com a ironia que lhe é peculiar, que a melhor maneira de segurar o chicote é pelo cabo. Essa é a perfeita metáfora da tolerância minimalista e/ou oportunista. Através dela confirmamos de forma intuitiva que é melhor ser estimado (ou estar no papel do tolerante) do que ser tolerado. O autodeclarado tolerante toma a si mesmo como a medida para estabelecer o modus faciendi do princípio e da atividade de tolerar que, de alguma forma, se apresenta agora como uma passividade de fachada. A tolerância, enquanto normatividade aplicada à experiência do mundo vivido, parece se resignar com a constatação de que, no interior das interações pessoais e sociais, há situações discursivas e práticas em que a discordância não pode ser superada. Em favor disso o senso c...
Ronald Augusto é poeta e ensaísta. Licenciado em Filosofia pela UFRGS e Mestre em Letras (Teoria, Crítica e Comparatismo) pela mesma universidade. É autor de, entre outros, Puya (1987), Vá de Valha (1992), Confissões Aplicadas (2004), No Assoalho Duro (2007), Cair de Costas (2012), Oliveira Silveira: poesia reunida (2012), e Decupagens Assim (2012). É colunista da revista http://www.mallarmargens.com/; e escreve quinzenalmente para http://www.sul21.com.br/jornal/colunista do site Sul21.