O trágico como vacilo de linguagem Ronald Augusto [1] Aristóteles, em sua Ética a Nicômaco , afirma o seguinte: “Não se deve procurar indiferentemente o mesmo rigor em todas as discussões”. Por outro lado, o desprezo total a uma medida necessária de rigor – lógico, e não rigor mortis – em nossos julgamentos e interpretações, pode levar a resultados, no mínimo, desagradáveis. Neste sentido, isto é, na perspectiva de validação de julgamentos e interpretações, talvez seja possível afirmar que a tragédia funda a necessidade da lógica; a necessidade de comprovação dos discursos, a comprovação das prescrições e das profecias. Essa é uma tese defendida por alguns autores, ou seja, podemos reivindicar a noção de que o “erro de linguagem” – um vacilo interpretativo, por assim dizer – está na fonte do princípio trágico. Dito de outro modo, o que o herói trágico pensa sobre o mundo e o que ele predica a respeito dos fatos em que se vê implicado nem sempre concordam, em última aná...
Ronald Augusto é poeta e ensaísta. Licenciado em Filosofia pela UFRGS e Mestre em Letras (Teoria, Crítica e Comparatismo) pela mesma universidade. É autor de, entre outros, Puya (1987), Vá de Valha (1992), Confissões Aplicadas (2004), No Assoalho Duro (2007), Cair de Costas (2012), Oliveira Silveira: poesia reunida (2012), e Decupagens Assim (2012). É colunista da revista http://www.mallarmargens.com/; e escreve quinzenalmente para http://www.sul21.com.br/jornal/colunista do site Sul21.