Uma peça literária, por várias razões, é mais do que um volume entre outros volumes. Quando o leitor apalpa a lombada do livro e o desentranha da gaveta mortuária da estante da livraria, da biblioteca ou do sebo, algo se inaugura. Um livro é uma irredutível solução textual onde se concentram aspectos relativos a um trecho histórico e a uma visão de mundo, traduzidos em linguagem poeticamente funcional.
Cada livro se presta a um lance sincrônico que, ao mesmo tempo, dá continuação e põe em xeque o legado. Antes de obedecer aos ditames do mercado livreiro-editorial, o livro é um gesto de autor, uma conquista. Isto é, por meio dessa obra literária o escritor põe em movimento um determinado projeto estético-construtivo. A opção de linguagem contida entre as capas do livro se constitui numa possibilidade de interpretação do mundo em que estamos imersos.
A cada obra acrescentada ao percurso textual do candidato a escritor (sério) ou do autor experimentado (também sério), nota-se o aprofundamento do entendimento e da sensibilidade a respeito do processo de construção do livro enquanto mídia e objeto que, necessariamente, denota uma coesão estético-discursiva.
Nesse devir, contam as possibilidades do livro como reunião de peças autônomas (livro-álbum), onde se destacam os detalhes; do livro enquanto estrutura de peças (prosa ou poesia) entrelaçadas e relacionais (poema-livro), onde o conjunto é o que conta; e, do livro como objeto sígnico cerrado em si mesmo (poema-livro), o livro-arte.
Comentários
Um abraço amigo, sempre bom te ler.