Todo curso – ou oficina literária – transcorre nessa fronteira delicada entre o aberto e o fechado; entre o consenso e o dissenso; entre a contenção e a frouxidão; entre o literário e o não-literário; entre a ingenuidade e a lucidez; entre o risco e a convenção. E essas hesitações se acham tanto na dinâmica do curso, quanto nos objetos verbais resultantes que, enfeixados em eventual volume ou recitados-lidos publicamente, são ofertados ao leitor.
A variedade, e, por que não admitir também, a desigualdade dos textos, situa forçosamente a discussão sobre o fundamento da “qualidade literária” em plano secundário. O apanhado dos textos não despreza, evidentemente, esse fundamento, entretanto, para todos os efeitos, digamos que apenas não o persegue como um fim absoluto. Afinal de contas, a casual beleza, os novos modelos de sensibilidade, ou o estranhamento sensível implicados em várias dessas peças, desentranhadas às vezes à força, são instâncias possíveis e apreensíveis mercê da colaboração estético-afetiva do leitor. Tais variantes do que chamamos “qualidade literária” só vêm à tona da linguagem, ao fim e ao cabo, devido à generosidade da recepção do leitor.
O leitor será, sempre, um co-autor. O executante dessa partitura aberta e proteica que, aqui, assume a forma do poema, ali, a do conto e, acolá, a do drama. Que ele fique, portanto, bem à vontade, pois os textos lhe pertencem. O leitor-intérprete (em sentido musical) põe a literatura em movimento; ou em xeque.
Comentários
Hey e quero estar também na foto,hein?
Um abraço amigo e parabéns pelo teu trabalho.