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Rita Dahl nasceu em 1971, em Vantaa, na Finlândia. Publicou os livros de poemas Kun luulet olevasi yksin (Loki-Kirjat, 2004), Aforismien aika (PoEsia, 2007), Elämää Lagoksessa (ntamo 2008), Aiheita van Goghin korvasta (Ankkuri 2009). Publicou também um livro de viagem sobre Portugal, O Encantador de Milles Escadas (Avain 2007) e mais recentemente o livro A liberdade da palavra finlandizada (Multikustannus 2009), entre outros títulos. Foi responsável pela revista de poesia Tuli & Savu, em 2001, e também pela revista cultural Neliö (www.page.to/nelio). Rita Dahl foi vice-presidente do PEN Clube da Finlândia durante 2006-2009, e lá realizou um trabalho com escritoras da Ásia Central, que resultou em um encontro internacional e duas antologias.
Rita Dahl - Quando e como você começou sua carreira como poeta? Quais influências?
Ronald Augusto - Acho que em 1973/74 me dei conta de que poderia ser algo próximo da imagem de poeta. Eu morava no Rio de Janeiro. Essa descoberta foi icônica, isto é, não verbal; à época não escrevi nada, foi um instante de observação não intencional em que a poesia me pareceu alguma coisa situada entre a vida ativa e a vida contemplativa. Eu tinha entre 12 e 13 anos. Alguns anos depois, movido pela paixão juvenil, comecei a fazer versos. Então, conheci a poesia de Manuel Bandeira (meu maestro soberano) e percebi que tinha que estudar muito mais esse gênero que me arrebatara. Outros poetas decisivos para o meu trabalho: Dante, Ezra Pound e João Cabral de Melo Neto.
RD - Conte sobre sua vida como ativista literário. Que faz e pensa fazer?
RA - Além de poeta e do trabalho de crítica literária, ministro cursos de poesia e de prosa criativa. Também sou músico e letrista. Tenho uma editora de poesia (www.editoraeblis.com) e sou diretor associado do website www.sibila.com.br. Pretendo publicar ainda este ano uma coletânea com meus ensaios e textos críticos e um pequeno volume reunindo alguns contos breves que escrevi no último ano.
RD - Queria saber o por quê desses poetas que você mencionou.
RA - Manuel Bandeira, porque é um poeta que tem uma plasticidade enorme: sua poesia pode ser lírica e ao mesmo tempo realista; emotiva e pré-cabralina; tradicional e experimental; Manuel Bandeira vai do soneto camoniano ao poema concreto. Dante, porque é um inventor; fez do poema épico um poema sacro; descobriu a rapidez no interior do poema longo; suas imagens são de uma precisão inigualável. Pound, porque não teve medo de arriscar-se num anacronismo, isto é, a épica; no entanto criou uma nova épica, fragmentária, expropriativa, de saque da tradição; Pound é um poeta que experimenta a alegria da influência, e porque é um poeta-crítico. João Cabral de Melo Neto, porque escreveu o livro "A educação pela pedra".
RD - E por que você resolveu fundar a Editora Éblis? E como são feitas as escolhas para a publicação?
RA - Fundei a editora Éblis para publicar poetas que aprecio. Escolhas estéticas representam escolhas éticas e políticas dentro das tensões do sistema literário. Eu e o poeta Ronaldo Machado (co-editor da Éblis) escolhemos poetas a partir da inventividade de linguagem; buscamos poetas que não temam o risco.
RD - Que significa para você a tradição literária e a nova geração brasileira; quem é que lhe impressiona e por quê? Você acompanha outras tradições literárias além da brasileira?
RA - Me parece que cada vez mais as novas gerações se afastam do diálogo com a tradição, isso é um problema, pois não há como fazer o novo sem redimensionar e recriar, no presente, os aspectos vivos do passado. Hoje, sou admirador do trabalho do Ricardo Aleixo, criador que vive em Minas Gerais. Atualmente, mais do que seguir tradições literárias, prefiro pesquisar o cinema de meados do século 20, nessa arte encontro mais coisas interessantes.
RD - Por que você gosta do trabalho do Aleixo? Está estudando o cinema brasileiro na década 20, um cineasta especial?
RA - Porque ele tem consciência dos limites da linguagem verbal, e consegue se aventurar no campo das outras artes sem, contudo, transformá-las numa espécie de tábua de salvação do seu desejo expressivo. É um poeta inteligente, sabe ser tipográfico quando necessário. Quanto ao cinema, me refiro à arte do cinema e não importa o país. É o cinema produzido mais ou menos até meados do século 20. E o meu interesse pelo cinema não é exaustivo nem enciclopédico, trata-se de fazer relações na tentativa de discutir alguns pontos (soluções fílmicas) centrais que podem definir a gramática desse gênero.
RD - Poderia ainda legitimar alguma escolha poética levada a cabo pela Editora Éblis - só
como exemplo.
RA - Publicamos o livro "51 mendicantos" do Paulo de Toledo, um excelente poeta quase inédito até há pouco. Seu livro tematiza por meio de uma linguagem precisa e sintética a persona do mendigo numa paisagem de fundo globalizada. O mendigo (homeless?) é um ícone do mundo centrado no capital. Um signo pop; o livro do Paulo trata disso, entre outras coisas.
RD - O que você pensa sobre a produção brasileira - é concentrada demais em Rio & São Paulo?
RA - Rio e São Paulo ainda figuram como o centro de difusão de tudo, tanto do que é bom, quanto do que é ruim; e hoje em dia, talvez, mais do ruim.
RD - A criação da editora foi também uma tentativa de romper essa balança delicada?
RA - Pode ser.
RD - Então, tem poesia fora SP e Rio, onde mais, especificamente?
RA - Naturalmente. Minas Gerais tem muitos poetas. Paraná também. O norte e o nordeste (Ceará, Bahia), idem. Mas é preciso dar chance mais ao tempo e à poesia do que aos poetas – neste momento há “gênios” em demasia empatando as coisas.
Comentários
Beijos e bom final de semana.