Giba Giba negro. Giba Giba bom. Giba Giba sempre de bom humor. Em respeito ao que é irredutível ao homem e ao músico Giba Giba, morto recentemente, interrompo por aqui a pequena analogia intertextual em que o ponho em relação com a personagem do poema “Irene no céu” de Manuel Bandeira. Primeiro porque embora a atitude de Giba Giba, no que toca à sua inserção na tradição cultural e musical de Porto Alegre e do estado, tenha traços mais conciliatórios do que de confronto, não me parece possível associar sua imagem à do negro da casa-grande que, como a Irene de Bandeira diante de São Pedro bonachão (cara cor de fiambre) e às portas do céu, talvez se dobrasse humildemente a perguntar: “dá licença, meu branco?”. O riso eterno da caveira de Irene ainda é perversamente desejado. Sequer no recinto sacrossanto da morte é permitido ao negro não pedir licença. Vá que o poeta tenha bolado um desfecho ambíguo: a anedota lírica oscila entre “humor negro” e humor de branco, o que, afinal de co...
Ronald Augusto é poeta e ensaísta. Licenciado em Filosofia pela UFRGS e Mestre em Letras (Teoria, Crítica e Comparatismo) pela mesma universidade. É autor de, entre outros, Puya (1987), Vá de Valha (1992), Confissões Aplicadas (2004), No Assoalho Duro (2007), Cair de Costas (2012), Oliveira Silveira: poesia reunida (2012), e Decupagens Assim (2012). É colunista da revista http://www.mallarmargens.com/; e escreve quinzenalmente para http://www.sul21.com.br/jornal/colunista do site Sul21.