Breve
exercício para fugitivos, esse conjunto de textos de Rubens da Cunha,
põe em movimento pensamentos-arte que
confinam com a ideia de que os discursos poéticos são volições significantes determinadas
a uma permanente conquista das imprecisões da razão e da emoção que requerem
formas plásticas capazes de apresentá-las. Cada texto é tanto uma vertigem onde
o prosaico e o bizarro se atritam, quanto um sumidouro de linguagem que se
processa através do corpo a corpo do poeta com a matéria verbal e as noções
empíricas e teóricas da função estética. Por essas e outras é que não me parece
despropositado afirmar que Breve
exercício para fugitivos se situa criticamente aquém e além do
conceito consagrado de crônica.
Rubens
da Cunha, poeta e autor de Curral (Editora
de UFSC, 2015), leva a efeito a ultrapassagem das convenções da prosa,
mas também das convenções e das fronteiras entre os gêneros. Se a poesia se
deixa perturbar por uma entropia discursiva, a prosa, por seu turno, pode ser
sonhadora e cair em uma espécie de tormenta, de torneio, de embriaguez. Todavia,
em que pese o risco da desmesura, nenhuma delas deixa de ser significante. Rubens
da Cunha, com esses verdadeiros petits
poèmes en prose (a analogia com o feeling
baudelairiano parece óbvia, mas ainda é útil) se integra a uma linhagem de escritores
e artistas determinados a inventar gêneros novos, gêneros para os quais precisamos
nos reinventar, afortunadamente, enquanto leitores-fruidores.
[Post-scriptum fugitivo ao paratexto
das abas do livro: Walter Benjamin escreve em algum lugar que os críticos e
acusadores de Baudelaire diziam que ele,
em seu percurso criativo, mudava a fisionomia como um condenado em fuga.]
Ronald Augusto é
poeta, músico, letrista e crítico de poesia. É autor de, entre outros, Confissões Aplicadas (2004), Cair de Costas (2012), Decupagens Assim (2012), Empresto do Visitante (2013) e Nem raro nem claro (2015). Dá expediente
no blog www.poesia-pau.blogspot.com e
escreve quinzenalmente em http://www.sul21.com.br/jornal/
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