Ofendendo sem ofender: o contínuo da estupidez Ronald Augusto [1] Sim, Daniela Mercury se “fantasiou” de Elza Soares, isto é, de negra, em homenagem ao dia do empoderamento negro. No próximo carnaval vou me fantasiar de branco em homenagem à imbecilidade da branquitude. Ou ainda, como uma espécie de variante, posso fazer mais radicais essas “ideias de jerico” do preconceito homenageando o dia do orgulho gay travestido de Fred Mercury, isto é, de gay. A cantora sem noção do axé chiclete inventou uma outra versão para a tola afirmação de Vinicius de Moraes que uma vez se autoproclamou “o branco mais negro do Brasil”, ou seja, disse a baiana animadora de trio: “Eu sou Michael Jackson ao contrário, eu adoro ser negra...”. Quando ela acha que “é negra”, o tempo todo ou lá de vez em quando? Durante o ano fiscal ou apenas nos dias de carnaval? A coitada acha que é moleza ser negra. A branca não sabe o que é viver um dia de negro no Brasil; sequer o que é viver um dia de...
Ronald Augusto é poeta e ensaísta. Licenciado em Filosofia pela UFRGS e Mestre em Letras (Teoria, Crítica e Comparatismo) pela mesma universidade. É autor de, entre outros, Puya (1987), Vá de Valha (1992), Confissões Aplicadas (2004), No Assoalho Duro (2007), Cair de Costas (2012), Oliveira Silveira: poesia reunida (2012), e Decupagens Assim (2012). É colunista da revista http://www.mallarmargens.com/; e escreve quinzenalmente para http://www.sul21.com.br/jornal/colunista do site Sul21.