Essas duas questões me foram apresentadas pelo poeta e jornalista José Weis. Devem ser ou já foram publicadas em algum lugar. Publico-as aqui também. Bom proveito.
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José Weis: A
recente "descoberta" de autores como Conceição Evaristo, Jeferson
Tenório e Itamar Vieira Júnior, pode ser considerada como um legado da luta de
pessoas como Oliveira Silveira?
Ronald Augusto: Os escritores mencionados compõem uma
parte do que entendemos ser hoje uma tradição negra na literatura brasileira ou,
ao menos, são representantes de uma produção comprometida com a luta
antirracista, coisa antes impensável quando levamos em consideração a história
do fazer literário em nosso país. Oliveira como um poeta e intelectual negro
anterior a essa geração, pode ser visto como um precursor ou como um
consolidador do movimento. Mais do que como legado, a poesia de Oliveira
Silveira tem que ser vista como um desafio às novas gerações, precisa ser
analisada como um conjunto de textos vivos, inventivos, através dos quais
podemos interpelar outros escritores negros sobre como questões estéticas e
políticas podem ser tensionadas no poema sem que sua relativa autonomia seja
lançada por terra. O grande ativista negro que Oliveira foi, jamais sufocou o
baita poeta que ele é e seguirá sendo.
J. W. : No
contexto atual, num dos estados mais racistas do País, celebrar a memória do
autor de Pêlo Escuro tem sua importância.
R. A. : Sim, tem importância. Mas o que acho
mais fundamental afirmar é que apesar do Rio Grande do Sul, seu estado de
nascimento e que, aliás, ele cantou de modo singular, que esse pertencimento
não é crucial para a poesia de Oliveira. Parece contra intuitivo, pois há o
regionalismo em sua obra. Mesmo reconhecendo a tópica afro-gaúcha em alguns de
seus livros, esse fato me parece mais secundário do que essencial. O Rio Grande
do Sul de Oliveira não é um território geográfico. É uma imagem, às vezes cruel
e perversa, porém ainda uma imagem geradora de impressionantes objetos verbais.
Oliveira é mais largo do que os limites de nossas fronteiras. O racismo gaúcho
é o racismo gaúcho. Não é maior nem menor do que em qualquer outro lugar.
Parece que em todos os quesitos o Rio Grande do Sul tem que ser insuperável.
Somos apenas uma anedota de mau gosto.
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