http://hingoweber.blogspot.com/ , neste endereço vocês encontrarão o lado cômico da filosofia. a seguir, a breve entrevista que concedi ao secretário de Hingo Weber, idealizador do excelente blog.
LC: O Lado Cômico gostaria de aproveitar o seu amplo conhecimento sobre a arte de escrever poemas e lançar algumas perguntas sobre a forma como a poesia se relaciona com o cômico. Tudo bem?
Ronald Augusto: Sim.
LC: Existe um poema clássico de Oswald de Andrade sustentado por apenas duas palavras “amor – humor”. Se trocássemos a palavra “amor” por “poesia” ou “poema”, a que autores e obras especificamente essa relação nos levaria?
RA: Eu lembraria em primeiro lugar os poetas medievais da tradição portuguesa. Suas obras estão sob a divisa das cantigas de escárnio ou de maldizer. No Brasil, diversos poemas de Gregório de Matos vão na linha do escárnio; já em outra direção, mais culta porém não menos sardônica, os poemas de Sousândrade que formam o conjunto Inferno de Wall Street não podem deixar de ser lembrados. Os poemas do abolicionista negro Luís Gama são excelentes também; enfim, se poderia fazer (ou quem sabe até já exista) uma antologia que privilegiasse o aspecto do humor (ou do “mau humor” no caso dos medievais maldizentes), que se trata, por assim dizer, de um subdiretório da logopeia.
LC: Poderias indicar, para publicação aos nossos leitores, um poema curto seu e um de outro autor que se enquadrariam em uma linha mais cômica, satírica ou cínica?
RA: Prefiro citar um poema de José Paulo Paes constante do seu livro póstumo Socráticas (2001):
Fenomenologia da resignação
1 Comigo isso jamais aconteceria.
2 Se acontecer, eu sei o que fazer.
3 Da próxima vez não vai ser tão fácil.
4 Quem já não passou por isso?
LC: Vários textos e artigos seus, publicados em seu blog, apresentam uma forte pesquisa em obras genuinamente filosóficas. Isso se deve a uma limitação do discurso analítico mais tipicamente poético e literário e, portanto, implica em um reconhecimento de que Platão tinha razão ao propor a exclusão dos poetas imitadores da sua República?
RA: As limitações se acham em todos os discursos. Meu interesse por algumas obras filosóficas nasce de modo um tanto acidental. Na verdade esse interesse deita raízes na escritura, no modo como este ou aquele pensador transforma em matéria verbal as suas perplexidades ou ilusões. Não são tanto as suas ideias, mas a sua linguagem, a arte com que carrega de significados o seu discurso. E sobre as controvérsias suscitadas por Platão, penso que o filósofo se deu conta de que, na arte da poesia, a função referencial da linguagem centrada no receptor era praticamente anulada ou no mínimo colocada em plano secundário. De acordo com a poética clássica, a poesia corresponde ao belo imperfeito, isto é, o que predomina neste gênero é a ficção e a fantasia, portanto não faz sentido que se lhe exija qualquer veleidade pedagógica ou moralizante. Platão tem em mira o belo perfeito, a obra poética em que se realiza a união do útil ao agradável.
LC: É verdade que você e Hingo Weber já fizeram um outdoor de lavanderia juntos e que ele, inacreditável!, manchou de tinta a sua única calça?
RA: Quem lhe contou isso?
LC: O Lado Cômico gostaria de aproveitar o seu amplo conhecimento sobre a arte de escrever poemas e lançar algumas perguntas sobre a forma como a poesia se relaciona com o cômico. Tudo bem?
Ronald Augusto: Sim.
LC: Existe um poema clássico de Oswald de Andrade sustentado por apenas duas palavras “amor – humor”. Se trocássemos a palavra “amor” por “poesia” ou “poema”, a que autores e obras especificamente essa relação nos levaria?
RA: Eu lembraria em primeiro lugar os poetas medievais da tradição portuguesa. Suas obras estão sob a divisa das cantigas de escárnio ou de maldizer. No Brasil, diversos poemas de Gregório de Matos vão na linha do escárnio; já em outra direção, mais culta porém não menos sardônica, os poemas de Sousândrade que formam o conjunto Inferno de Wall Street não podem deixar de ser lembrados. Os poemas do abolicionista negro Luís Gama são excelentes também; enfim, se poderia fazer (ou quem sabe até já exista) uma antologia que privilegiasse o aspecto do humor (ou do “mau humor” no caso dos medievais maldizentes), que se trata, por assim dizer, de um subdiretório da logopeia.
LC: Poderias indicar, para publicação aos nossos leitores, um poema curto seu e um de outro autor que se enquadrariam em uma linha mais cômica, satírica ou cínica?
RA: Prefiro citar um poema de José Paulo Paes constante do seu livro póstumo Socráticas (2001):
Fenomenologia da resignação
1 Comigo isso jamais aconteceria.
2 Se acontecer, eu sei o que fazer.
3 Da próxima vez não vai ser tão fácil.
4 Quem já não passou por isso?
LC: Vários textos e artigos seus, publicados em seu blog, apresentam uma forte pesquisa em obras genuinamente filosóficas. Isso se deve a uma limitação do discurso analítico mais tipicamente poético e literário e, portanto, implica em um reconhecimento de que Platão tinha razão ao propor a exclusão dos poetas imitadores da sua República?
RA: As limitações se acham em todos os discursos. Meu interesse por algumas obras filosóficas nasce de modo um tanto acidental. Na verdade esse interesse deita raízes na escritura, no modo como este ou aquele pensador transforma em matéria verbal as suas perplexidades ou ilusões. Não são tanto as suas ideias, mas a sua linguagem, a arte com que carrega de significados o seu discurso. E sobre as controvérsias suscitadas por Platão, penso que o filósofo se deu conta de que, na arte da poesia, a função referencial da linguagem centrada no receptor era praticamente anulada ou no mínimo colocada em plano secundário. De acordo com a poética clássica, a poesia corresponde ao belo imperfeito, isto é, o que predomina neste gênero é a ficção e a fantasia, portanto não faz sentido que se lhe exija qualquer veleidade pedagógica ou moralizante. Platão tem em mira o belo perfeito, a obra poética em que se realiza a união do útil ao agradável.
LC: É verdade que você e Hingo Weber já fizeram um outdoor de lavanderia juntos e que ele, inacreditável!, manchou de tinta a sua única calça?
RA: Quem lhe contou isso?
Comentários
seu blog é da hora.
abs.
sérgio vaz
coperifa