Pular para o conteúdo principal

nosso linchamento não tem fim




Antes da estreia da série pessoas de boa vontade diziam "calma, vamos esperar a série começar... vocês estão criticando apenas o título... não conhecem o conteúdo..." etc etc. Pode ser. Agora, corta para uma cena da chamada de "Sexo e as Negas": vemos uma das personagens, ela trabalha em um restaurante e conduz alguns homens brancos, bem trajados e arrogantes, até a mesa, um deles pede uma carne bem passada, bem escura ou preta, que é como ele gosta e olha de pronto para a "nega", ela percebe a "indireta" e retruca, como se engendrasse uma resposta genial ou malandra, assim: "então eu vou pedir ao fulano (um garçom negro, alto e avantajado) que atenda o senhor, pois ele vai lhe dar certamente o que o senhor deseja..." (faz um olhar cheio de significados). A cena é mais ou menos assim. Pois esse é o nível do texto do Falabella. Os negros sempre sujeitos a trocadilhos de mau gosto, sua genitália usada tanto em vista do gozo, quanto da punição sádica, a "nega" sobe nas tamancas ou mostra sua altivez colocando outro negro no centro do circo da estereotipia. E você acha que o título é só impressão? Inocente.

Comentários

Anônimo disse…
Cara, como você pensa! É genial ! ! ! ! Parece que adivinha o que a gente também pensa, muito bom, me fez interessar por sua obra. Tô procurando seus livros (também gosto de poesia e Poesia!) e só encontrei na Estante Virtual. Ainda não naveguei por este poesia-pau, se estiverem por aqui vou adquirir direto (se não, vou mesmo de EstanteVirtual). Pois é, cara: E eu gostava dos poemas (poucos que vi) da Elisa Lucinda mas depois de degustar seu excelente artigo (aquele e este textículo) percebi que nem tudo é como parece ser. Penso também ter pelo menos boa vontade e espero aprender mais com os seus poemas e sua poesia. Mas meu irmão (de poesia, de dor e de luta-prazer pra ser mais pro(-)ser) não desanime que suas palavras tocaram fundo noutro coração e pensamento perdidos nessa imensidão de país que um dia haverá de ser mais justo para todos e para todas. Um abraço de poesia.

Postagens mais visitadas deste blog

oliveira silveira, 1941-2009

No ano de 1995 organizei a mini-antologia Revista negra que apareceu encartada no corpo da revista Porto & Vírgula , publicação — infelizmente hoje extinta — ligada à Secretaria Municipal de Cultura e dedicada às artes e às questões socioculturais. Na tentativa de contribuir para que a vertente da literatura negra se beneficiasse de um permanente diálogo de formas e de pontos de vista, a Revista negra reuniu alguns poetas com profundas diferenças entre si: Jorge Fróes, João Batista Rodrigues, Maria Helena Vagas da Silveira, Paulo Ricardo de Moraes. Como ponto alto da breve reunião daqueles percursos textuais, incluí alguns exemplares da obra do poeta Oliveira Silveira. Gostaria, agora, de apenas citar o trecho final do texto de apresentação que à época escrevi para a referida publicação: “Na origem todos nós somos, por assim dizer, as ramificações, os desvios dessa complexa árvore Oliveira. Isto não nos causa o menor embaraço, pelo contrário, tal influência nos qualifica a...

O prazer da leitura tripla

  Lendo Ronald Augusto Poesia de poeta “experimental” convida ao prazer da leitura tripla por Paulo Damin, escritor, professor e tradutor em Caxias do Sul. “Polêmico”, disse uma colega professora, quando o Ronald passou por Caxias, tempos atrás. Deve ser porque ele é um filósofo. Ou porque comentou a falta que a crítica faz pra literatura. Ou então porque o Ronald escreve versos “experimentais”, ou mesmo experimentais sem aspas. As ideias dele sobre crítica e literatura são fáceis de encontrar. Tem, por exemplo, uma charla literária que fizemos com ele, neste link . O que vim fazer é falar sobre ler os poemas do Ronald Augusto. Sabe aquela história de que é mais importante reler do que ler? Esse é o jogo na obra poética dele. Minha teoria é que todo poema do Ronald deve ser lido pelo menos três vezes. Na primeira, a gente fica com uma noção. Que nem entrever alguém de longe na praia, ou na cerração. A gente pensa: é bom isso, entendi. Vou ler de novo pra entender melhor umas coisa...

Cruz e Sousa: make it new

Ronald Augusto [*]   Falsos Problemas “Entretanto, eu gosto de ti, ó Feio! Porque és a escalpelante ironia da formosura, a Sombra da aurora da carne, o luto da matéria doirada ao Sol...” Eis aí, talvez, o indispensável Cruz e Sousa expondo - à sua maneira ou a quem tiver olhos para enxergar - o âmago daquilo que alguns estudiosos de sua obra consideram a “nota brasileira” do seu simbolismo, a saber, a condição de negro. Este recorte metonímico do poema em prosa “Psicologia do Feio”, que integra o livro Missal (1893), dá uma pequena amostra de quão abrangente é o estrato semântico a movimentar os dilemas e estilemas crítico-criativos de Cruz e Sousa. O Feio representa, a um só tempo, vetor ético e estético. O poeta opera com uma variante do motivo do artista maldito que vai se desdobrar no demiurgo algo monstruoso - porque dotado de “energias superiores e poderes excepcionais” que, no desmedido de sua experiência (húbris), transformam-se em verdadeiras ofensas co...