“o que é poesia?”
é a grande questão que move os poetas, mesmo quando aparentemente ela não vem à
tona do campo de significação de seus poemas; a resposta mais fácil, resposta
de bolso, talvez seja a que diz que a poesia é quando a linguagem para nela
mesma, ou seja, quando o leitor percebe que a linguagem se dá em espetáculo, quando
o leitor é obrigado a ver/ler o que está de fato escrito/inscrito ante seus
olhos e não o que ele imagina estar sendo dito por meio da linguagem, em outras
palavras, o poeta não quer dizer, ele já disse, já materializou um objeto
estético-verbal significante, e que é uma coisa polissêmica; mas se alguém nos
perguntasse, por exemplo: “o que é a escultura?”. eu responderia de modo
sintético apontando um espécime: o
pensador de rodin. sim, mas como se faz escultura? ah, pois é. “o que é
poesia?” é uma pergunta que parece supor também isso: “como se faz?” é
necessário conviver com os poemas para saber o que é poesia, e não confundi-la
[a poesia] com os efeitos causados, que são da ordem do impreciso (cada um vai
perceber a coisa de um jeito, isto é, cada um vai inventar um significado para
aquela figura de um homem nu pensando; por outro lado, a escultura está ali presentificada e, a rigor, à
vista de todos objetivamente), daí outra definição, lema das minhas oficinas: poesia
é a precisão do impreciso, uma forma estética, um objeto lingual, que implica
em uma materialidade (uma imagem, uma metáfora nova) para o impreciso, feito
uma espécie de tradução; eis minha resposta sempre insuficiente.
Irene preta, Irene boa. Irene sempre de bom humor. Quem quer ver Irene rir o riso eterno de sua caveira? Parece que só mesmo no espaço sacrossanto da morte, onde deparamos a vida eterna, está permitido ao negro não pedir licença para fazer o que quer que seja. Não se pode afirmar, mas talvez Manuel Bandeira tenha tentado um desfecho ambíguo para o seu poema: essa anedota malandramente lírica oscila entre “humor negro” e humor de branco, o que, afinal de contas, representa a mesma coisa. No além-túmulo – e só mesmo aí –, não nos será cobrado mais nada. Promessa de tolerância ad eternum , e sem margens, feita por um santo branco, esse constante leão de chácara do mais alto que lança a derradeira ou a inaugural luz de entendimento sobre a testa da provecta mucama. Menos alforriada que purificada pela morte, Irene está livre de sua “vida de negro”, mas, desgraçadamente, só ela dá mostras de não ter assimilado isso ainda; quando a esmola é demais o cristão fica ressabiado. Na passagem dest
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