“o que é poesia?”
é a grande questão que move os poetas, mesmo quando aparentemente ela não vem à
tona do campo de significação de seus poemas; a resposta mais fácil, resposta
de bolso, talvez seja a que diz que a poesia é quando a linguagem para nela
mesma, ou seja, quando o leitor percebe que a linguagem se dá em espetáculo, quando
o leitor é obrigado a ver/ler o que está de fato escrito/inscrito ante seus
olhos e não o que ele imagina estar sendo dito por meio da linguagem, em outras
palavras, o poeta não quer dizer, ele já disse, já materializou um objeto
estético-verbal significante, e que é uma coisa polissêmica; mas se alguém nos
perguntasse, por exemplo: “o que é a escultura?”. eu responderia de modo
sintético apontando um espécime: o
pensador de rodin. sim, mas como se faz escultura? ah, pois é. “o que é
poesia?” é uma pergunta que parece supor também isso: “como se faz?” é
necessário conviver com os poemas para saber o que é poesia, e não confundi-la
[a poesia] com os efeitos causados, que são da ordem do impreciso (cada um vai
perceber a coisa de um jeito, isto é, cada um vai inventar um significado para
aquela figura de um homem nu pensando; por outro lado, a escultura está ali presentificada e, a rigor, à
vista de todos objetivamente), daí outra definição, lema das minhas oficinas: poesia
é a precisão do impreciso, uma forma estética, um objeto lingual, que implica
em uma materialidade (uma imagem, uma metáfora nova) para o impreciso, feito
uma espécie de tradução; eis minha resposta sempre insuficiente.
No ano de 1995 organizei a mini-antologia Revista negra que apareceu encartada no corpo da revista Porto & Vírgula , publicação — infelizmente hoje extinta — ligada à Secretaria Municipal de Cultura e dedicada às artes e às questões socioculturais. Na tentativa de contribuir para que a vertente da literatura negra se beneficiasse de um permanente diálogo de formas e de pontos de vista, a Revista negra reuniu alguns poetas com profundas diferenças entre si: Jorge Fróes, João Batista Rodrigues, Maria Helena Vagas da Silveira, Paulo Ricardo de Moraes. Como ponto alto da breve reunião daqueles percursos textuais, incluí alguns exemplares da obra do poeta Oliveira Silveira. Gostaria, agora, de apenas citar o trecho final do texto de apresentação que à época escrevi para a referida publicação: “Na origem todos nós somos, por assim dizer, as ramificações, os desvios dessa complexa árvore Oliveira. Isto não nos causa o menor embaraço, pelo contrário, tal influência nos qualifica a...
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