O caso de Dione Veiga Vieira, talvez em função dessa condição privilegiada de criadora ambidestra - haja visto ser poeta e artista visual -, ou que outra explicação se tente, sempre me pareceu interessante. Sua confiança na autonomia da linguagem poética se revela tão jubilosa em sua luminosidade carnal, que não é justo mostrar indiferença frente às imagens que povoam Matiz de Estação (1983), infelizmente, diga-se de passagem, o primeiro e único livro de Dione até agora. Mas, aqui, e por ocasião da exposição individual que em breve será inaugurada, direi algumas palavras sobre sua arte não-verbal.
Suas obras plásticas ou seus objetos algo brossianos, de pendor intersemiótico, se configuram numa espécie de outra dimensão dos belos poemas-texto que conhecemos. Seus objetos não-utilitários são coisas-pulsões, signância a contravento de uma ratio medianeira, objetos de linguagem. Mais do que uma representação do mundo, eles se convertem em invenção de um mundo à parte, sem margens precisas, que obedece à gravidade e leis próprias.
Quando comparo tanto os trabalhos visuais, quanto a poesia conquistada e realizada por Dione Veiga em Matiz de Estação à “uma cartografia equívoca” — mapeamento multilingual de pequenos utensílios e signos que pensam a sua própria ausência corrosiva —, minha intenção é a de valorizar a beleza do discurso poético-imagético como algo livre e aberto, algo no qual o leitor-fruidor não pode depositar suas esperanças de redenção, nem esperar que a partir de tal realidade cambiante depare um rumo para as suas angústias existenciais, etc. A poesia nos convida a uma participação não-crédula, álacre. Do meu ponto de vista, o qualificativo “equívoco” representa um ganho, uma chave de leitura para toda a grande poesia ou obra de arte que, ao fim e ao cabo, por meio de suas linguagens, nos dão a possibilidade de ampliação dos limites de sentido do nosso mundo. E Dione, através de sua arte, nos oferece isso.
Suas obras plásticas ou seus objetos algo brossianos, de pendor intersemiótico, se configuram numa espécie de outra dimensão dos belos poemas-texto que conhecemos. Seus objetos não-utilitários são coisas-pulsões, signância a contravento de uma ratio medianeira, objetos de linguagem. Mais do que uma representação do mundo, eles se convertem em invenção de um mundo à parte, sem margens precisas, que obedece à gravidade e leis próprias.
Quando comparo tanto os trabalhos visuais, quanto a poesia conquistada e realizada por Dione Veiga em Matiz de Estação à “uma cartografia equívoca” — mapeamento multilingual de pequenos utensílios e signos que pensam a sua própria ausência corrosiva —, minha intenção é a de valorizar a beleza do discurso poético-imagético como algo livre e aberto, algo no qual o leitor-fruidor não pode depositar suas esperanças de redenção, nem esperar que a partir de tal realidade cambiante depare um rumo para as suas angústias existenciais, etc. A poesia nos convida a uma participação não-crédula, álacre. Do meu ponto de vista, o qualificativo “equívoco” representa um ganho, uma chave de leitura para toda a grande poesia ou obra de arte que, ao fim e ao cabo, por meio de suas linguagens, nos dão a possibilidade de ampliação dos limites de sentido do nosso mundo. E Dione, através de sua arte, nos oferece isso.
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