A linguagem da poesia não é, mesmo, para qualquer um, no sentido em que ela teria sido inventada para ir ao encontro, ou atender à demanda, de um determinado público; não. O movimento é inverso. A poesia engendra o seu público e, se necessário, mais adiante o descarta. De fato, não existe o "público apenas leitor" de poesia porque não há, a rigor, o falante de poesia como há, por exemplo, o falante de inglês, de alemão, de iorubá, de português, etc. É neste sentido que a poesia, segundo Carlos Drummond de Andrade, se converte nesta linguagem de alguns instantes. Uma língua-linguagem efêmera que se inventa ao inventar o seu leitor-falante e os modelos de sensibilidade que ele desentranha de si no agora impreciso e irredutível da leitura criativa.
Irene preta, Irene boa. Irene sempre de bom humor. Quem quer ver Irene rir o riso eterno de sua caveira? Parece que só mesmo no espaço sacrossanto da morte, onde deparamos a vida eterna, está permitido ao negro não pedir licença para fazer o que quer que seja. Não se pode afirmar, mas talvez Manuel Bandeira tenha tentado um desfecho ambíguo para o seu poema: essa anedota malandramente lírica oscila entre “humor negro” e humor de branco, o que, afinal de contas, representa a mesma coisa. No além-túmulo – e só mesmo aí –, não nos será cobrado mais nada. Promessa de tolerância ad eternum , e sem margens, feita por um santo branco, esse constante leão de chácara do mais alto que lança a derradeira ou a inaugural luz de entendimento sobre a testa da provecta mucama. Menos alforriada que purificada pela morte, Irene está livre de sua “vida de negro”, mas, desgraçadamente, só ela dá mostras de não ter assimilado isso ainda; quando a esmola é demais o cristão fica ressabiado. Na passagem dest
Comentários
Nossa, se pode fazer um seminário sobre este parágrafo, sobre este dizer, dará muito o que ler e falar.
Beijos
um beijo
Abraços