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Os interstícios da linguagem nas poéticas de Ronald Augusto e Sangare Okapi

por Ricardo Riso [1] A poesia des(a)fia a linguagem. O poeta, seguindo a origem grega da palavra, é aquele que faz. O poeta cria e recria a linguagem. Diante disso, temos representações poéticas dissonantes que não se enquadram em determinadas tendências, escolas e sentidos assinalados por uma crítica acadêmica que, muitas vezes, se posiciona na dianteira dos poetas e suas obras. Nessa perspectiva, deparamo-nos com certas amarras na literatura brasileira e nas literaturas africanas de língua portuguesa baseadas em questões que fogem da simples análise do texto literário, mas que envolvem aspectos identitários, étnico-raciais, de classe, de gênero, entre outras categorias que contribuem para um caráter homogêneo dessas literaturas constituídas em cânones, por conseguinte, relacionadas a ideias identitárias que representam seus países. Trazer para o centro do debate a questão racial aguça a percepção para restrições do campo da literatura comparada, colabora para o tensionamen...

Musil: o obsceno, o patológico e os desejos artísticos

Ronald Augusto [1] Essas ligeiras considerações que submeto à apreciação do leitor são resultantes da leitura do ensaio “O obsceno e o patológico na arte” (1911) de Robert Musil [2] , e o que se procura, através delas, é apresentar e analisar sumariamente os argumentos articulados por Musil para justificar a representação dos elementos obscenos, doentios e aparentemente pornográficos na arte. Cabe referir que a tradução utilizada para o presente trabalho foi realizada pela escritora e crítica Kathrin H. Rosenfield, de quem fui aluno na disciplina de Filosofia da Arte ao longo do segundo semestre do ano de 2014. Em primeiro lugar podemos afirmar que Musil tem a noção de que a representação dos elementos obscenos, doentios e pornográficos na arte, além de ser algo que diz respeito à autonomia criativa, tem a ver ainda com uma espécie de terminação do artista em fazer uma inspeção radical nos âmbitos mais secretos do desejo humano, visando com isso uma compreensão mais desanuvi...

Mejor es ir haciendo poemas

Entrevista a Gervasio Monchietti:  http://eltaller3.blogspot.com.ar/2015/02/entrevista-poesia-y-critica-desde-brasil.html Grevasio Monchietti - ¿Cómo descubriste la poesía. Recordás quién o qué te hizo conocer por primera vez un poema o un poeta? Ronald Augusto - Descurbrí no la poesía, sino algunas propiedades del género, creo, con mi madre. Pero eso fue algo que conseguí racionalizar sólo cuando fui adulto. El desconcierto que sentí al oír a mi madre leyendo sus poemas causó en mí una impresión tal que terminé por rechazar, en ese momento, la poesía, pues aquella persona no parecía ser mi madre, todo me sonaba artificial y preparado, sus palabras tenían otra cadencia, otro ritmo, no era – como dijo una vez Drummond (de Andrade), a propósito del poema –, “la lengua de todos los instantes”: la poesía, o mejor, el poema. Sin que supiésemos, ni ella ni yo, mi madre me estaba enseñando que el habla cotidiana se transforma en un extrañamiento que se fija en la forma del...

sr. K feito o desenho de uma ideia

resposta insuficiente

“o que é poesia?” é a grande questão que move os poetas, mesmo quando aparentemente ela não vem à tona do campo de significação de seus poemas; a resposta mais fácil, resposta de bolso, talvez seja a que diz que a poesia é quando a linguagem para nela mesma, ou seja, quando o leitor percebe que a linguagem se dá em espetáculo, quando o leitor é obrigado a ver/ler o que está de fato escrito/inscrito ante seus olhos e não o que ele imagina estar sendo dito por meio da linguagem, em outras palavras, o poeta não quer dizer, ele já disse, já materializou um objeto estético-verbal significante, e que é uma coisa  polissêmica; mas se alguém nos perguntasse, por exemplo: “o que é a escultura?”. eu responderia de modo sintético apontando um espécime: o pensador de rodin . sim, mas como se faz escultura? ah, pois é. “o que é poesia?” é uma pergunta que parece supor também isso: “como se faz?” é necessário conviver com os poemas para saber o que é poesia, e não confundi-la [a poesia] c...